domingo, 10 de maio de 2009

Muito à distância da educação


“A educação à distância é a modalidade que mais cresce no ensino superior brasileiro.[...] Nos últimos quatro anos, de 2004 a 2008, o salto foi de 1.175%” (Demétrio Weber, O Globo, 10/05/2009, pág. 12)
Para quem passou os últimos 40 anos argumentando que a educação - como prática social transformadora e humanizadora - não podia acovardar-se diante dos constrangimentos de tempo e espaço, mas usar a ciência e a técnica para superar os limites de prazo e distância, esta notícia deveria ser saudada com entusiasmo.
Infelizmente, esse percentual de crescimento indica um salto na irresponsabilidade. Ao contrário de aplausos, precisa suscitar indignação. Aproveitando-se de uma demanda em crescimento vertiginoso (ainda que tardio!) pela educação superior no país, desde há muito abriram-se as comportas para uma ampliação desordenada da oferta de cursos de graduação. 
Temperou-se a abertura com a depravada arrogância de que o mercado (o que é mesmo isso?) disciplinaria o processo e garantiria a qualidade. O que se assistiu, antes mesmo da denominada “educação a distância”, foi a deslavada mercantilização da oferta de vagas. Mercantilização que, na esfera pública, teve sua manifestação paralela no atropelo politiqueiro da ampliação açodada de vagas, sem correspondente desenvolvimento institucional, capaz de garantir condições de qualidade socialmente significativa ao trabalho educacional dos corpos docente e discente.
As experiências, pesquisas e avaliações das propostas de um uso responsável das tecnologias interativas de informação e comunicação para uma superação, pela educação, dos constrangimentos de tempo e espaço, da distância e dos prazos,  foram desvirtuadas. Não o tempo pedagógico da maturação responsável dos projetos, mas o tempo politiqueiro da aparência de atendimento a uma justa demanda, criou uma nova versão das inaugurações das antigas escolas de paredes sem professores: a proclamação de oferta de vagas on line,  para um mirabolante e-learning sem e-teaching, onde, sob o nome de tutoria (que é um modo de exercer o magistério), arregimentaram-se estudantes bolsistas, para atuarem nos núcleos, quase nunca devidamente equipados. 
E quando se conhecem, no país e fora dele, experiências de uma educação verdadeira, que lança mão de um uso responsável de mediação tecnológica para superar a distância ou a dificuldade de tempo disponível para a locomoção e presença física, garantindo a qualidade do diálogo pedagógico...
e quando se conhecem, no país e fora dele, as preocupações de educadores e educandos em conquistar o acesso às condições de uso adequado dos meios colocados à disposição pela ciência e pela tecnologia para qualificar a educação...
não podemos aplaudir a falácia dessa proclamada expansão de matrículas por uma atividade que se diz de ensino, mas se faz - traiçoeiramente - muito à distância da educação!

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